Por Helena Rizzatti, Thiago Pizzo Scatena, Pedro Rezende, Aluízio Marino e Raquel Rolnik | Dados: Pedro Rezende, Amanda Silber Bleich, Paula Victória Souza e Martim Ferraz*

Nos mapas eleitorais do primeiro turno que circulam na imprensa, cujas limitações já analisamos anteriormente, há uma leitura de que as cidades do interior paulista são território bolsonaristas. Essa interpretação considera apenas qual candidato venceu, mas esconde tendências históricas e disputas internas nessas cidades. O LabCidade e o Instituto Território em Rede mapearam a distribuição dos votos para presidência e para governador do estado de São Paulo no primeiro turno das eleições de 2018 e 2022, nas duas maiores cidades do interior paulista: Ribeirão Preto e Campinas.

Em números totais, percebemos um acirramento da disputa entre 2018 e 2022. Em Campinas, no primeiro turno das eleições presidenciais de 2018, Haddad recebeu 95.083 votos; Lula recebeu 259.973, em 2022, um aumento de 173,4%. Enquanto Bolsonaro passou de 336.703 votos, em 2018, para 320.684 em 2022, uma redução de 4,75%. Em Ribeirão Preto os votos para a presidência contabilizaram 125.555 votos para o PT no primeiro turno das eleições de 2022, ante 33.410 votos em 2018, um crescimento de 275%; enquanto Bolsonaro passou de 177.963 votos, em 2018, para 180.226 em 2022 no primeiro turno, um aumento de 1,27%.

 

Os mapas mostram ainda um crescimento generalizado dos votos em Lula em relação a Haddad, candidato de 2018, tanto em Campinas quanto em Ribeirão Preto. Em Campinas, destacamos o aumento dos votos no bairro de Betel, pertencente à cidade de Paulínia e onde se localiza a Refinaria de Paulínia (REPLAN), uma das maiores da Petrobrás. No interior da cidade de Campinas os votos chegam a atingir esse percentual de crescimento nos bairros de renda média e alta, à norte da Rodovia Anhanguera, desde o Cambuí e Taquaral até Barão Geraldo.

Quanto aos votos para o candidato Bolsonaro, há uma redução de até 20% por toda a Região Metropolitana de Campinas, com destaque para a cidade de Jaguariúna e para o bairro campineiro Cidade Universitária. Nas bordas da mancha urbana, há um leve crescimento de Bolsonaro, mas um crescimento significativamente maior do voto na coligação liderada pelo PT. A redução vista na área consolidada de Campinas indica uma tendência de crescimento do voto antibolsonarista em redutos do bolsonarismo, como já observamos para a capital São Paulo e para o Rio de Janeiro. Essa tendência também se repete em Ribeirão Preto. Há um crescimento maior do voto petista nas regiões de maior renda, notadamente na Zona Sul e parte da Zona Leste de Ribeirão, enquanto as regiões de baixa renda mantiveram seus índices de votação em Lula. A variação de votos para o candidato Bolsonaro de 2018 e 2022 foi até 20% negativa em algumas regiões do Centro, Zona Oeste e Norte, e, notadamente, na Zona Sul, onde há forte variação negativa em loteamentos fechados de alto padrão, como o Alphaville 3.

Mais uma vez, as informações históricas e em escala mais próxima do território mostram que os processos políticos são mais complexos que uma simples vitória ou derrota de certo candidato. Há uma tendência de crescimento do voto antibolsonarista e uma tendência de queda de Bolsonaro nas regiões onde ele obtém seu melhor desempenho. Ainda que Bolsonaro seja o candidato mais votado no interior paulista, é incorreto enxergar a região como voto vencido – a disputa política segue em movimento.

* Helena Rizzatti é doutora em Geografia pelo IG/UNICAMP, professora temporária da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e membro-fundadora do Instituto Território em Rede; Thiago Pizzo Scatena é bacharel em Ciências Sociais pela UFSCar, mestre em Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo pelo IAU/USP e membro-fundador do Instituto Território em Rede; Pedro Rezende é arquiteto e urbanista pela FAU USP e pesquisador do LabCidade; Aluízio Marino é coordenador do LabCidade e pós doutorando pela FAU USP; Raquel Rolnik é professora da FAU USP e coordenadora do LabCidade; Amanda Silber Bleich é urbanista e arquiteta pela Escola da Cidade, graduanda em Gestão de Políticas Públicas pela EACH-USP e pesquisadora do LabCidade; Paula Victória Souza e Martim Ferraz Costa são graduandos em Arquitetura e Urbanismo pela FAU USP.


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Campinas: PPT | PDF

Ribeirão Preto: PPT | PDF