Na quarta (02/08), 8h, o prefeito João Doria recebeu organizações da sociedade civil que trabalham com saúde, assistência social, urbanismo e segurança pública para apresentar o Projeto Redenção – ação intersetorial da prefeitura que visa a desarticulação de pontos de compra, venda e consumo de crack em lugares públicos e a implementação de um projeto urbanístico para a região. Este foi o primeiro encontro de uma série programada pelo secretário de Governo Júlio Semeghini.
Os primeiros a falar foram os secretários Filipe Sabará (Assistência e Desenvolvimento Social), Wilson Pollara (Saúde), Eloisa Arruda (Direitos Humanos), Fernando Chucre (Habitação), José Oliveira (Segurança Urbana) e coordenadores do Redenção. Quando, enfim, chega o momento dos convidados da sociedade se manifestarem, Doria anuncia que a reunião acabaria às 10h. Um representante do Ministério Público (MP) intervém, e o prefeito consente que a reunião dure mais tempo. De qualquer forma, Doria deixou a sala antes do fim.
Não ouviu, por exemplo, questionamentos do Observatório de Remoções à suposta garantia de atendimento habitacional aos moradores ameaçados de remoção nas Quadras 37 e 38, em Campos Elíseos – onde hoje se localiza a “cracolândia” mais conhecida da cidade. Ou como a prefeitura vai lidar com as famílias que moram na mesma Zona Especial de Interesse Social 3 – C-108 (ZEIS 3), mas fora das quadras ameaçadas neste momento pela Parceria Público-Privada Habitacional da Região Central. Nem como atender às demandas dos moradores da Favela do Moinho, perto dali, cujas casas também estão ameaçadas.
Doria saiu antes de ouvir relatos sobre a atuação violenta e desproporcional da polícia civil e da Guarda Civil Metropolitana (GCM) contra moradores, dentro de suas casas e na rua, e a violência contra usuários de crack. Segundo o Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas e Álcool (COMUDA), policiais fazem cerca de 600 abordagens diariamente na região, mas, apesar disso, o volume de apreensões de substâncias ilícitas é pequeno e contraditório em relação aos números apresentados pela gestão. Também foram alvo de críticas denúncias de internações compulsórias e comunidades terapêuticas contratadas pela prefeitura, mas inadequadas para prestar este serviço.
Às 11h30, representantes da sociedade civil deixaram a sala com a impressão de que o suposto debate foi como uma apresentação de teatro – quando atores falam e a plateia apenas escuta. Faltou espaço para participação, para interferência na elaboração e implementação das políticas públicas direcionadas para lugares onde se concentram usuários de drogas ilícitas e moradias populares.
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