A Ocupação Douglas Rodrigues existe desde agosto de 2013, no bairro da Vila Maria, em São Paulo. Seus moradores se organizam no Movimento Independente de Luta por Habitação da Vila Maria (MIVM) que, desde o ano passado (2015), tem construído junto com o Observatório de Remoções uma metodologia de mapeamento da Ocupação, com o objetivo de ter maior conhecimento sobre as famílias que lá vivem e, com isso, fortalecer a luta por moradia e poder obter melhores condições de habitação.
O mapeamento consistiu na elaboração de um mapa georreferenciado da Ocupação, vinculado à aplicação de questionários em cada residência. Para realizar o mapeamento, primeiro organizamos pré-campos e aplicações testes com os questionários, bem como uma análise inicial da Ocupação a partir de imagens de satélite. Depois, organizamos um mutirão de uma semana, em março de 2016, do qual participaram moradores da Ocupação e voluntários estudantes de arquitetura. Em duplas, compostas por um estudante e um morador, os pesquisadores percorreram toda a Ocupação, vinculando cada família, suas histórias, características e anseios à casa onde mora.
Desse modo, foi possível identificar os usos dos imóveis e os perfis das famílias residentes; entender a razão de ter saído da moradia anterior e de terem chegado à Ocupação; mapear de onde vieram, se desejam continuar ali e por que; se recebem benefícios do governo; se trabalham e qual é o tipo de vínculo empregatício; se estudam e onde; e, de modo geral, os vínculos, atividades e equipamentos públicos utilizados no bairro.
Na tabulação inicial dos dados levantados, foram trabalhados o uso dos imóveis (usos residencial, comercial ou outro); a demografia da Ocupação; os tipos de material construtivo dos imóveis; de onde vieram os moradores e a razão de suas chegadas; e a quantidade de estudantes nas escolas do entorno. Um primeiro resultado dessa leitura foi apresentado aos moradores, o que gerou uma discussão produtiva sobre o trabalho até então e as possíveis análises futuras.
Foi feita também, nessa primeira leitura, uma sobreposição do traçado natural do Rio Tietê, antes de ser retificado, com a atual localização da Ocupação. Para isso, foi utilizado o mapa Sarah Brasil, de 1930 obtido com o Cesad FAUUSP, e a base do arruamento atual, com a localização da Ocupação Douglas Rodrigues (mapa 1). Fica claro de verificar a posição suscetível na área de várzea que a Douglas Rodrigues se encontra em uma área ocupada pelo leito do Rio em época de cheia. Essa análise justifica a difícil drenagem das águas pluviais e o consequente e fácil alagamento.
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Mapa 1. Sobreposição mapa Sarah Brasil (1930) com base do arruamento atual e localização do terreno da Ocupação Douglas Rodrigues
Com o mutirão de mapeamento conseguimos uma boa amostra da Ocupação para trabalhar: 74,1% dos imóveis são residenciais e tiveram questionário respondido, 0,9% dos imóveis foram identificados por terem outros usos que não moradia (comércio, serviços, sede do movimento, igreja, etc) e 25,1% de imóveis não tiveram questionários respondidos.
Foi possível identificar que grande parte das famílias veio do entorno da Ocupação (mapa 2) e o principal motivo que as fez sair da moradia anterior foi problema de renda: dificuldade de pagar aluguel e/ou desemprego, que representou 65,5% das respostas dos questionários respondidos.
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Mapa 2. Porcentagem de famílias que tiveram o questionário respondido e vem do entorno
Outro dado importante identificado foi a quantidade predominante de famílias jovens (grupo de pessoas entre 18 e 29 anos, segundo o IPEA) na Ocupação, totalizando 41% dos questionários respondidos. Trata-se de um grupo específico que manifesta a vulnerabilidade ao decidir formar uma nova família e sair da coabitação do arranjo familiar anterior e se tornarem jovens responsáveis por uma casa, casais com filhos representam 15,7% das famílias totais da Ocupação, sendo ainda que outras 5,6% são constituídas por mães ou pais solteiros. Esse alto número de famílias jovens também pode significar que esse perfil de família talvez seja menos atendido/se enquadre menos em programas habitacionais.
A Ocupação tem uma população majoritariamente formada por crianças, adolescentes e jovens, representando 67,6% dos moradores. A maioria dos que estudam vão a escolas do entorno do bairro (mapa 3). De modo geral, toda a população da Ocupação utiliza serviços e equipamentos do entorno da Ocupação e a maioria vai a pé estudar ou trabalhar.
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Mapa 3. Porcentagem de estudantes da Ocupação que frequentam as escolas do entorno
O Observatório de Remoções continua a tabular mais dados levantados no mapeamento e algumas frentes de trabalho a partir da primeira tabulação já foram definidas. Enquanto as famílias esperam por moradias mais dignas, pretende-se elaborar um plano emergencial de melhorias urbanísticas colaborativo, com a parceria entre o Observatório e os moradores. De forma geral, esse trabalho auxilia o Movimento a conhecer melhor a situação dos moradores da Ocupação e o processo de consolidação da mesma. Entendemos que o mapeamento é um retrato de um momento da Ocupação, que se transforma a cada dia, com pessoas chegando e partindo, casas sendo construídas e repartidas constantemente e cada vez mais os vínculos sendo estabelecidos.