As histórias contadas pelos (ex) moradores das favelas Comando e Buraco Quente incomodam pela explícita falta de garantia do direito à moradia em um futuro próximo para diversas famílias inseridas em uma área de avançada valorização imobiliária. Muitos moradores ainda têm dúvidas sobre o verdadeiro motivo de terem sido obrigados a sair de suas casas aonde chegaram a viver por mais de 40 anos. Lá, filhos e netos cresceram, construíram suas vidas e tiveram cerca de 6 meses para “escolher” entre ficar nas proximidades ou buscar em outro lugar um espaço para reconstruírem suas vidas. Nenhuma das escolhas aconteceu sem perdas.
Para os que escolheram esperar por um atendimento definitivo da CDHU, a notícia é que o valor do terreno que estiveram por década aumentou muito após a saída dos moradores originais, isso não é nenhuma surpresa, no entanto, esta valorização, obviamente, não pôde ser contabilizada no valor das indenizações que os moradores receberam ou que serão amortizadas do valor total das unidades habitacionais futuramente construídas.
A desapropriação do terreno, depositada em juízo para o antigo proprietário, onerou as famílias que esperam pela construção dos edifícios, já que serão eles e o Poder Público que pagarão pela alta valorização do terreno. Sendo assim, não há garantia se terão condições de nos 300 meses após receberem suas chaves arcarem com o financiamento em que estarão comprometidos.
A previsão – “se tudo correr bem” – é que as obras, que ainda não começaram, já que ainda aguardam a aprovação da Prefeitura, sejam concluídas em 3 anos – entre aprovação, contratação da construtora, início e fim da construção. As famílias foram removidas em 2012, havia uma previsão de conclusão das obras em 2015. Serão, portanto, para 120 famílias que não aceitaram uma indenização, pelo menos 6 anos sem atendimento definitivo, arcando com boa parte do valor do aluguel, já que o auxílio que recebem não condiz com o valor de mercado. Muitas famílias moram em casas menores do que moravam antes para darem conta do aluguel ou se afastaram do bairro e se instalaram em áreas muito distantes onde o aluguel é mais baixo, ou ainda, contam com a ajuda de familiares.
Novas remoções acontecerão. Moradores das favelas vizinhas ameaçados pelas obras que os cercam não sabem o que de fato irá acontecer – se permanecerão no local ou não, o tipo de atendimento, as possíveis indenizações. As informações chegam muitas vezes por meio de boatos, sem clareza ou sem documentos oficiais.
A incerteza em relação ao futuro, portanto, não é só do Comando e Buraco Quente, mas de todas as ocupações, favelas e comunidades ameaçadas de remoção na região da Espraiada. As remoções enfraquecem as organizações e os movimentos já legitimados, fragmentando as ações no território. O desafio que se coloca é transformar as lutas individuais em uma luta só, garantindo que todos os moradores da região se beneficiem das possíveis melhorias realizadas pelo poder público, permanecendo no lugar em que construíram suas vidas. O fortalecimento de uma articulação entre as comunidades se torna urgente na atual conjuntura. Existe um embrião desta articulação em curso e o Observatório de Remoções tem se colocado à disposição para fortalecer e contribuir nos espaços de resistência de moradores removidos e em ameaça de remoção, violados em seu direito à moradia.
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