Por Gabriela Carneiro*, Marina Harkot** e Raquel Rolnik***
Os resultados preliminares da pesquisa Origem e Destino 2017, que é realizada pela Companhia do Metropolitano de São Paulo, foram apresentados na última quarta-feira (12). A pesquisa é quase um censo dos deslocamentos na cidade, e traz informações sobre quais são os meios de transportes mais utilizados, qual o tempo médio das viagens, o que motiva as pessoas a saírem de casa, dentre outras informações. Essa é a sexta pesquisa realizada em 50 anos — a última tinha sido publicada em 2007 —, e é fundamental para uma análise histórica da mobilidade na cidade.
A pesquisa apontou um aumento no total de viagens superior ao aumento populacional em relação à 2007 — a população cresceu 7%, passando de 19,5 para 20,8 milhões de habitantes, ao passo que as viagens totais diárias cresceram 9%, passando de 38,1 para 41,4 milhões.
Entre 2007 e 2017, houve um crescimento do uso de metrô, trem, moto, automóvel, transporte escolar, táxis e outros aplicativos de transporte e um pequeno aumento no uso de bicicleta, como modos principais. É importante lembrar que, na pesquisa Origem e Destino, o metrô e o trem são sempre considerados os modos principais de transporte quando eles são utilizados em algum deslocamento, por serem os meios de transporte com maior capacidade de carregamento de passageiros.
Essas mudanças podem indicar uma mudança nos hábitos de viagem dentro da RMSP, mas especialmente na infraestrutura: a rede do Metrô passou de 61,4 km para 89,8 km extensão (um aumento de 46%) e da CPTM cresceu de 251,1 km para 267,5 km (aumento de 6,5%). Também foram inauguradas novas estações, mais modernas e com mais conexões entre os dois serviços, ambos de alta capacidade. Essa mudança explica o ganho desses modais como meio de transporte principal. O aumento proporcional no sistema de trilhos também é explicado pela maior integração entre os modais e pela popularização do bilhete único.
Nas tabelas divulgadas pela pesquisa também se verifica uma redução percentual do uso do ônibus como meio principal de transporte – entretanto, isso não significa que o total de viagens de ônibus tenha caído. Essa redução pode apenas indicar que este modo está mais integrado ao sistema de trilhos. Por exemplo: se antes um usuário realizava todo o seu deslocamento de ônibus e, agora, ele combina o uso de ônibus e metrô em seu trajeto, o metrô passa a contar como modo principal, por sua maior capacidade de carregamento. A política pública que exigiu que os fretados não circulassem em determinadas regiões da cidade pode explicar a redução desse modo como principal, uma vez que agora boa parte dos fretados desembarca seus passageiros em estações de metrôs e trens.
Também de acordo com a pesquisa cresceram as viagens por táxi e, pela primeira vez, aparecem as viagens por aplicativos de transporte (que não existiam na cidade em 2007). Hoje, juntos, somam 500 mil viagens por ano na região metropolitana de São Paulo, como meios principais de deslocamento diário.
Por enquanto, não é possível saber como esses modais se combinam com outros nos deslocamentos pela cidade, porque os dados apresentados são preliminares e consideram apenas o meio de transporte principal utilizado. Também não é possível saber ainda se houve alterações nos principais motivos das viagens. A pesquisa completa só deve ser disponibilizada em 2019, o que permitirá fazer análises mais aprofundadas, como a de Haydée Svab (2016), que identificou padrões de mobilidade a partir de características socioeconômicas e familiares.
Porém, um padrão importante, que indica ganhos na qualidade de vida e alterações nas dinâmicas territoriais, já foi revelado: houve uma redução no tempo médio das viagens. Veja o gráfico abaixo.
Essas mudanças podem ser explicadas pela implementação de faixas exclusivas de ônibus e pela ampliação da rede de metrôs e trens, e também é possível que tenha existido uma mudança na localização dos empregos e equipamentos públicos e na própria natureza das viagens. Mas só será possível saber esses detalhes no ano que vem, com a divulgação dos microdados.
*Gabriela Carneiro é estudante de graduação da FAU-USP, pesquisadora do LabCidade e bolsista de Iniciação Científica FAPESP. Em sua pesquisa, busca entender a relação entre a infraestrutura cicloviária e o comércio.
**Marina Kohler Harkot é cientista social e mestre em Planejamento Urbano pela FAUUSP. Atua em coletivos da sociedade civil ligados à promoção da bicicleta.
***Raquel Rolnik é arquiteta e urbanista e professora titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
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