Raquel Rolnik*
Athos Bulcão, artista carioca radicado em Brasília (DF), está sendo homenageado este ano, em função da comemoração do centenário de seu nascimento. Um dos grandes nomes não só brasileiros, mas internacionais, Bulcão mostra a conexão entre a arte e arquitetura. Muitos conhecem seus grandes murais, feitos principalmente com azulejos em composições abstratas que retomam a tradição árabe–portuguesa da azulejaria, mas introduzem uma linguagem modernista.
Bulcão começou a sua trajetória de artista trabalhando com Candido Portinari – este também um grande muralista – no painel da Igreja de São Francisco de Assis, em Pampulha, em Belo Horizonte (MG). Lá se encontrou com Oscar Niemeyer, e foi convidado por este para fazer os painéis do Congresso Nacional, do Brasília Palace Hotel, da Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, entre outras obras, em Brasília. Também colaborou com João Filgueiras Lima, o Lelé, arquiteto mestre da pré-fabricação de elementos, uma verdadeira “fábrica” de arquitetura sem perda do sentido plástico, artístico, das obras. O resultado dessa parceria entre Athos Bulcão e Lelé pode ser visto, por exemplo, na Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, tanto em Brasília e Belo Horizonte, como em Salvador (BA), Fortaleza (CE) e São Luís (MA).
O que mais instiga no trabalho do Athos Bulcão é sua intensa participação na própria arquitetura dos edifícios. Não se trata absolutamente de murais para “enfeitar” a arquitetura, mas de uma participação ativa na composição do ambiente. Os murais contribuem para definir a percepção dos edifícios, destacar seus elementos estruturais, o que é feito através da cor, do movimento, do ritmo, das ilusões de ótica, fazendo com que os espaços vibrem, pareçam maiores ou menores, e definindo o próprio ritmo do percurso do usuário dentro dos prédios.
Em outras de suas obras, Bulcão participa da própria construção, ao permitir, a partir dos elementos geométricos que definem sua linguagem, que os próprios azulejistas definissem a composição à medida em que a obra ia se desenvolvendo.
Bulcão fez parte de uma geração de artistas brasileiros que apostaram na construção de Brasília como uma possibilidade de desenvolver uma arte pública, para todos, fora do confinamento dos museus. Sua obra portanto, além de conectada à arquitetura, desenha a cidade.
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