Nos aprofundando nos debates do quarto dia do Seminário Cidade, Gênero e Interseccionalidades, apresentamos a fala da Rossana Brandão Tavares. Rossana é arquiteta e urbanista, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFF e da UNIGRANRIO. Atuou por 8 anos na ONG FASE, do RJ, acumulando experiência em educação e participação popular. Rossana foi assessora parlamentar da vereadora carioca Marielle Franco, brutalmente assassinada em maio de 2018. Em sua tese de doutorado, desenvolveu o conceito de espaços generificados de resistência, apontando para a possibilidade de construção de ferramentas metodológicas a partir da articulação do debate de movimentos feministas, a universidade e as práticas sociais das mulheres nas ruas.
Em consonância com grande parte da produção feminista acadêmica, que rejeita a ideia de uma ciência neutra, em sua exposição, Rossana entrelaçou elementos de sua trajetória de vida com seus percursos acadêmicos, demonstrando, na prática, a importância da experiência para a produção feminista que é, ao mesmo tempo, um projeto teórico e político, de reflexão e de prática.
Trazendo a experiência de muitos anos de trabalho em campo e participação na luta pela Reforma Urbana, Rossana traz os conflitos que surgem dentro do debate quando as reivindicações de, por exemplo, mulheres e pessoas negras na incorporação de demandas são confrontadas por uma abordagem que, para negar tais demandas, se esconde atrás de uma alegada técnica – técnica essa que é masculina, branca e eurocêntrica. Articulando reflexões oriundas da teoria e da prática, Rossana apresenta o conceito de “espaços generificados de resistência”, desenvolvido por ela em sua tese de doutorado, buscando evidenciar como não se pode olhar para o território como um lugar de disputas etéreas e que o debate sobre o corpo e práticas sociais de resistência precisam ser levados em consideração num processo participativo de construção emancipatória de políticas públicas, superando as demandas de interesses práticos e imediatos.
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Referências
BUTLER, Judith. Corpos em aliança e a política das ruas: notas para uma teoria performativa de assembleia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018. 267 pp.
BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016. 936p.
FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade: Curso dado no Collège de France (1975-1976). São Paulo: Martins Fontes, 1999.
CAPAI, Eliza. No devagar depressa dos tempos. 2013. Disponível em: https://vimeo.com/139523851
MOLYNEAUX, Maxime. Mobilization without Emancipation? Women’s Interests, the State, and Revolution in Nicaragua.Feminist Studies, Vol. 11, No. 2 (Summer, 1985), pp. 227-254. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/3177922?seq=1#metadata_info_tab_contents
ACTION AID. Linha de base: Campanha Cidades Seguras Para Mulheres. Brasil, 2014. Disponível em: http://actionaid.org.br/wp-content/files_mf/1498585783Linha_de_Base.pdf
HOOKS, Bell. O feminismo é para todo mundo: Políticas arrebatadoras. São Paulo: Rosa dos Tempos, 2018. 175p.
MASCARO, Gabriel. Doméstica. 2013. Disponível em: https://vimeo.com/320486105
TAVARES, Rossana Brandão. Corpos que chegam, que ficam e que vão. In: Victor Guimarães. (Org.). Doméstica. 1ed.Recife: Desvia Produções, 2015, v. 1, p. 104-119.
ROSE, Gillian Rose. Feminism and Geography: The Limits of Geographical Knowledge. Reino Unido: Polity, 1993. 216pp.
PELA CIDADE – especial Cidade, Gênero e Interseccionalidade #9: Rossana Tavares
Apresentação e roteiro: Marina Harkot e Larissa Lacerda, do LabCidade
Entrevistada: Rossana Tavares
Trilha de abertura: Bruno Bonaventure, com voz de Mariana Félix
Edição de áudio: Bruno Bonaventure
Produção: Marina Harkot, Larissa Lacerda e Leonardo Foletto, do LabCidade
Captação: Centro de Pesquisa e Formação SESC São Paulo
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