Pedro Rezende, Raquel Rolnik e Jonas Santana*

As interpretações sobre o resultado das eleições presidenciais de 2022 focalizaram o papel fundamental da região Nordeste para a vitória da coligação liderada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência. De fato, os 21,7 milhões de votos a Lula no Nordeste no primeiro turno e os 22,5 milhões no segundo foram essenciais para consolidar o triunfo. Mas é necessário complexificar esta leitura, sobretudo contestando a leitura de que o apoio a Lula é basicamente nordestino, o que reforça uma narrativa preconceituosa e divisionista. Embora os votos predominantes da região tenham sido fundamentais, essa leitura esconde um fenômeno político relevante de reversão da perda de votos na região Sudeste, onde se encontra o maior colégio eleitoral do país.

O LabCidade mapeou a variação do total de votos dados às candidaturas lideradas pelo PT à presidência entre 2006 e 2022, por município. No Nordeste é possível verificar que o crescimento do voto em Lula se intensificou a partir da presença do PT no governo federal. Esse fenômeno está diretamente conectado às políticas públicas aplicadas na região a partir do primeiro mandato de Lula, iniciado em 2003.

 

Da mesma forma que no Nordeste foram se ampliando as vitórias das coligações petistas, a região Sudeste apresentava um padrão fragmentado de votação, com tendência progressiva de queda do voto no PT a partir de 2006. Em 2018, a vitória da coligação liderada por Jair Bolsonaro (PL) na região foi acompanhada de uma queda generalizada do voto no PT no segundo turno. Mas entre 2018 e 2022, a coligação liderada por Lula reverteu a tendência e cresceu em boa parte da região Sudeste, dando a Lula 22,7 milhões de votos no segundo turno. Dos 13 milhões de votos a mais obtidos pelo PT em 2022, 7,8 milhões vieram da região. O cartograma abaixo mostra os municípios distorcidos pela quantidade de votos adicionais obtidos pela coligação liderada pelo PT entre 2018 e 2022.

O fenômeno foi particularmente importante no estado de São Paulo, onde concentra o maior número de eleitores do país. Além da Região Metropolitana de São Paulo, o PT também cresceu – e muito – no interior paulista em relação ao pleito de 2018. Este é um fenômeno novo, que a narrativa da divisão entre “Nordeste e o resto” esconde, mas que é fundamental identificar.

 

* Pedro Rezende é arquiteto e urbanista pela FAU USP e pesquisador do LabCidade; Raquel Rolnik é professora da FAU USP e coordenadora do LabCidade; e Jonas Santana é assessor de comunicação do LabCidade.