Quatro pesquisadoras/es do LabCidade apresentam nesta quarta-feira (6) os resultados de seus projetos de pesquisas no 32º Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da Universidade de São Paulo (SIICUSP). Organizado pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação da USP, o Siicusp é um dos principais eventos ligados à iniciação científica do país e tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento de estudos e fomentar a colaboração e a interação entre pesquisadores de diferentes níveis, áreas e nacionalidades.

Todos os trabalhos foram desenvolvidos dentro do laboratório no último ano, sob a orientação dos coordenadores Aluízio Marino, Isadora Guerreiro, Paula Freire Santoro e Raquel Rolnik, quando os estudantes de graduação atuaram como bolsistas de iniciação científica.

A participação do LabCidade terá início com a exposição do estudo “Cartografias em disputa: Investigação e Prática Cartográfica Crítica” na mesa D1 de Mapeamentos e Cartografias, das 8h às 9h50. De autoria do pesquisador Alec Akasaka Benedusi, e orientação do pós-doutorando Aluísio Marino, com bolsa de iniciação científica PIBIC/CNPq, a pesquisa teve como objetivo observar as transformações em curso nos bairros da Luz, Bom Retiro, Campos Elíseos e Santa Efigênia, no centro de São Paulo, na região comumente chamada de “Cracolândia”, através do mapeamento crítico de dinâmicas e conflitos recentes.

Considerando o histórico de expansão das parcerias público-privadas na região e a violência empregada por diferentes agentes para a gestão do espaço, o estudo investiga como o “fluxo” – que denomina a concentração local de usuários de crack e outras drogas – tem sido mobilizado, física e simbolicamente, como justificativa para políticas urbanas excludentes. O estudo também faz parte da série Guerra de Reconquista que acaba de ser lançada pelo LabCidade.

A produção científica do laboratório segue em destaque na mesa C3 de Dinâmicas Urbanas e Imobiliárias, das 14h às 15h50, mediada pela professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU-USP) e coordenadora do LabCidade Raquel Rolnik. A pesquisadora Gabriela Azzolini apresenta seu trabalho “Um eixo de estruturação da transformação urbana, duas dinâmicas: Capão Redondo e Brooklin”, orientado pela profa. Paula Santoro e apoiado pela FAPESP.

O artigo compõe um grupo de trabalhos que querem compreender empiricamente como se dá a produção imobiliária na sua relação com a regulação urbana recente na cidade de São Paulo, observando seu dinamismo, concentrações e heterogeneidades. O contexto analisado é o de dinamismo imobiliário (financeirizado ou não), observado por Castro e Sígolo (2021): desde 2017 o município de São Paulo vive um “mini boom” da produção imobiliária, com concentração na produção do “segmento econômico” (valor da unidade até R$ 350 mil).

O trabalho de Gabriela Azzolini teve como objetivo o estudo da dinâmica imobiliária residencial e das transformações urbanas e demográficas nos territórios do Eixo de Estruturação da Transformação Urbana (EETU) da Linha 5 Lilás do metrô, aprovado no Plano Diretor Estratégico (PDE) de 2014 e ativado em janeiro de 2016. A área da regulação na Linha Lilás do metrô se mostrou interessante ao abarcar territórios muito distintos que têm apresentado grandes transformações: o entorno da estação Brooklin, avaliada como primeira estação com maior número de empreendimentos licenciados até 2021, localizada no quadrante Sudoeste da cidade (Villaça, 2011), e o entorno da estação Capão Redondo, área de periferia consolidada, que tem sofrido uma grande transformação a partir do Eixo.

A pesquisadora também faz uma leitura dos territórios a partir do conceito de fronteira imobiliária, da expansão desta e sua relação com o EETU e a chegada do metrô.

Na mesma mesa, a pesquisadora Luiza Hespanhol apresenta seu trabalho “Regulação urbana e produção imobiliária na zona nordeste da cidade de São Paulo: cartografias, tipologia e produtores do segmento econômico”, orientado pela profa. Paula Santoro, apoiado pela FAPESP.

A pesquisa compreende as formas diversas da produção imobiliária de habitação formal na cidade de São Paulo, com foco na Zona Norte, seus agentes e produtos, sua relação com a regulação e com zoneamentos que concentraram processos de transformação urbana. Como método, faz uma revisão teórica; periodização, análises e cartografias dos lançamentos imobiliários; visitas de campo e entrevistas.

Como achados, apresenta ao menos três padrões de produção imobiliária: (i) adensamento construído, vertical, com produtores locais de médio porte, em Eixo; (ii) adensamento construído, vertical, em grande escala, com produtores nacionais, financeirizados, em áreas periféricas e ZEIS; (iii) pouco adensada e vertical, com produtores locais, dispersa. Revela permanências dos processos rentistas não financeirizados, e a coexistência de homogeneidade e heterogeneidade nos padrões encontrados.

Diferentemente de uma narrativa homogênea sobre a produção imobiliária como sendo majoritariamente frente de expansão imobiliária financeira, observa que nem tudo o que está sendo produzido se enquadra diretamente na lógica financeirizada imposta pelas grandes empresas, há permanências nos modos rentistas dos períodos anteriores – que utilizam capital local para a produção imobiliária – na produção encontrada empiricamente.

 

As apresentações do LabCidade seguem na mesa D3 Política Habitacional: Análise e Crítica, que ocorrerá também das 14h às 15h50. A pesquisadora Lara Giacomini expõe seu trabalho “Insegurança Habitacional no centro de São Paulo: despejos à luz dos incentivos imobiliários do PIU-SCE”.

O trabalho é fruto do projeto de iniciação científica PIBIC/CNPQ “Despossessão e reestruturação urbana em São Paulo: remoções e deslocamentos forçados sob a racionalidade econômico-financeira dos PIUs” e tem como objetivo central investigar o modo como as políticas de reestruturação urbana vigentes em São Paulo se articulam com o quadro de insegurança habitacional do município, a partir da análise de remoções, despejos e dinâmicas imobiliárias no recorte territorial do Projeto de Intervenção Urbana Setor Central (PIU-SCE).

Os resultados obtidos indicam uma conexão entre o aumento de despejos por falta de pagamentos de aluguel e a criação do dispositivo, dada a existência de um perímetro de incentivos à atividade imobiliária na região central, que aumenta a especulação em torno dos preços dos terrenos e aluguéis, expulsando locatários e ameaçando famílias em situação de inadimplência.

A programação completa do 32º Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da Universidade de São Paulo (SIICUSP) está disponível aqui.